Portfólio
Calor em Blumenau: vida a 40°C
Além de sentir na pele a sensação térmica de 48 °C, moradores da Itoupavazinha ficaram sem água
Além de sentir na pele a sensação térmica de 48 °C, moradores da Itoupavazinha ficaram sem água
CRISTIAN WEISS
BLUMENAU
No dia em que os termômetros marcaram 40,8 °C às 16h, os blumenauenses mergulharam no Rio Itajaí-Açu, usaram toalhinha molhada e se refugiaram à sombra para driblar o calor. No entanto, aos moradores da Rua Botuverá, no Bairro Itoupavazinha, não restou alternativas. Sob 48 °C de sensação térmica, eles passaram o dia com louças acumuladas na pia e roupas sujas dentro de casa. A razão: torneiras vazias. Além de causar transtorno dentro das residências, o problema prejudica o andamento da construção dos 96 apartamentos que serão ofertados para as famílias atingidas pela catástrofe de novembro de 2008, em um terreno adquirido na rua. Não há água para beber nem sequer para misturar no concreto.
Segundo o empreiteiro Luiz Batista, os problemas no abastecimento comprometem e atrasam a construção das moradias. Chega a faltar água já durante a manhã e, no decorrer do dia, o abastecimento é precário. Um dos moradores chegou a disponibilizar um poço artesiano nos fundos da casa para que os operários possam, ao menos, matar a sede. Cerca de 80 homens trabalham na obra, iniciada em novembro.
– A gente trabalha até meio-dia, mas daí temos de parar porque falta água. Não tem para beber nem para fazer a massa. É complicado porque temos prazo para cumprir – reclama o empreiteiro.
Conforme o comerciante Ciro de Jesus dos Santos de Brites Prestes, o problema na rua se estende há semanas. Ele reclama que, quando há água, a vazão é pouca. As críticas são as mesmas na Velha Grande, que também sofre com o desabastecimento.
– Mesmo na parte baixa, não tem uma gota na torneira – critica o presidente da Associação de Moradores da Rua Franz Müller e transversais, Adriano Pereira.
Por isso, até a semana que vem, quando a massa de ar quente que está sobre o Sul dá lugar a uma massa de ar com temperaturas mais amenas, é bom economizar água.
Mergulho para refrescar
Um mergulho talvez tenha sido tudo o que os blumenauenses desejaram na tarde de ontem. No Rio Itajaí-Açu, próximo à Ponte do Salto, oito jovens entre 18 e 19 anos não ficaram só na vontade. Caíram na água para espantar o calor.
– Nos outros dias, a gente tentou se refrescar tomando refrigerante gelado. Mas hoje (ontem) só um banho de rio para dar jeito – justificou Anderson da Silva Kopsch.
O Corpo de Bombeiros de Blumenau, no entanto, recomenda evitar os banhos nos rios, principalmente quando apresentarem correnteza. Jamais mergulhe em áreas com muita pedra e, se não souber, não entre na água.
Só mesmo a toalhinha molhada
Ônibus lotado e o sol refletindo no painel também prejudicam o trabalho dos motoristas de Blumenau. A saída é recorrer à toalhinha molhada e arregaçar as mangas como fez ontem o motorista Ivan Dias, 37 anos.
– Nem ventilador na cabine dá jeito. E com o sol batendo direto, o lado esquerdo do motorista sempre é mais moreno – brinca.
Com sombra e água fresca
O suor corre na face do jardineiro Osvaldo da Silva Filho, 51 anos, da Companhia Urbanizadora de Blumenau. Habituado aos serviços externos em dias quentes, nem o calor de ontem pareceu lhe tirar o bom-humor.
– Como o calor está desgastante, a gente faz um intervalo do serviço e senta à sombra para tomar uma aguinha gelada que a gente traz na garrafa térmica – explica.
Consumo de energia cresce 15%
Condicionadores de ar e ventiladores ligados para combater as altas temperaturas provocaram o aumento de 15% no consumo de energia elétrica em Blumenau. De acordo com o gerente Regional da Celesc, Régis Evaloir da Silva, o gasto com a eletricidade ontem na cidade foi de 375,5 megawatts (MW). Dia 25, quando a temperatura era mais amena, o consumo máximo foi de 328,5 MW.
– Mesmo com o alto consumo com o uso de aparelhos de refrigeração, o sistema de distribuição não é comprometido – garante Silva.
No Brasil, o consumo de energia também bateu recorde ontem. Foram consumidos 70.654 MW. A capacidade de produção no país é de 106 mil MW.
Tire dúvidas
O banho gelado ajuda a diminuir a sensação de calor?
É um refresco momentâneo. Com a alta temperatura, não há contraindicações para o banho frio.
O que é melhor, ventilador ou arcondicionado?
O ventilador não causa o ressecamento do ar, mas ele faz circular apenas o ar que está no ambiente, sendo menos vantajoso que o ar-condicionado em tempos de muito calor.
Como combater o ressecamento provocado pelo ar-condicionado?
Quando o ar-condicionado faz o resfriamento do ar, o aparelho retira o vapor e devolve ar frio e seco. Uma bacia com água ou um balde são meios de jogar vapor nesse ar que se tornou seco. Uma toalha molhada estendida também pode favorecer.
Tomar sorvete ou picolé refresca?
Refresca, mas o ideal é optar pelo picolé, que tem mais água, hidratando com mais eficiência e por ser menos calórico do que o sorvete. Iogurtes na forma de sorvete também são opções. A dica de nutricionistas é apelar para muita água, sucos e água de coco.
A gente sua mais ou menos com tanta umidade no ar?
Pelo suor, o ser humano equilibra o calor interno do corpo com o calor externo. Quanto mais o tempo estiver úmido, menos o ser humano perde suor, ou seja, troca calor com o ambiente.
Samae recebe 100 reclamações diariamente
O Samae afirma que o abastecimento deve se normalizar nos próximos dias na Itoupavazinha e Velha Grande. As fortes chuvas da semana passada fizeram com que a autarquia tivesse de diminuir a velocidade de abastecimento nas adutoras, além de causar falta de energia. O calor dos últimos dias também é apontado como um dos vilões, que acaba ocasionando o aumento do consumo de água e comprometendo o fornecimento para as regiões mais elevadas.
Nos dias mais quentes, apesar da capacidade de fornecimento do Samae permanecer a mesma, o consumo de água nas residências chega a aumentar até 25%. Os problemas têm congestionado a Central de Atendimento, que recebe a média de 100 reclamações por dia.
– A situação foi perdendo o controle e acabamos com uma crise no abastecimento, que estamos recuperando agora. O problema é que agora as pessoas estão consumindo muita água e quem mora nos lugares mais altos sofre. O povo que mora no Centro e nas áreas baixas tem de economizar para sobrar para Faça sua parte quem mora nesses outros locais – defende o gerente de Manutenção de Rede de Águas do Samae, Eugênio Roncaglio.
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