Portfólio
Trânsito de Blumenau: O labirinto do trevo da Mafisa
Pedestres e ciclistas se aventuram para circular próximo ao viaduto recém- inaugurado
Pedestres e ciclistas se aventuram para circular próximo ao viaduto recém- inaugurado
CRISTIAN EDEL WEISS
BLUMENAU
A costureira Sônia Regina Duarte, 47 anos, equilibra-se na bicicleta e pedala pela Rua 1º de Janeiro, com destino ao supermercado. Inicia o percurso às 15h, para não se deparar com a fila de veículos no horário de pico da BR-470. Ilusão. Encontra o primeiro obstáculo no Trevo da Mafisa, que não consegue cruzar devido ao movimento de veículos na rotatória. Busca o caminho alternativo que acredita ser mais seguro, seguindo pela marginal de acesso à Rua Dr. Pedro Zimmermann, onde pretende atravessar. Esforço à toa. Acostamento estreito e ausência de faixa de pedestres obrigam Sônia a percorrer mais 100 metros e descer da bicicleta. A costureira ameaça ziguezaguear pela pista e lança um olhar de súplica, quando finalmente os motoristas se convencem a lhe ceder espaço para a travessia.
– O trânsito não é feito só de carros. Inauguraram o viaduto e esqueceram dos pedestres e de quem usa a bicicleta – indigna-se Sônia.
Ela, de fato, não está só. Na outra margem da Dr. Pedro Zimmermann, o casal Ivonei Fiamoncini, 50, e Marli Kremer, 48, esperam mais de cinco minutos para atravessar a via. Acabaram de descer do ônibus e não têm alternativa senão desafiar o fluxo de veículos, que ameniza aos poucos com o engarrafamento. Mas a aventura não termina com a travessia. Na hora de seguir pela marginal do viaduto, em direção à BR-470, andam em fila indiana. Ali a passagem afunila-se num corredor com menos de meio-metro, que os separa dos veículos e do guard-rail.
A sequência de dificuldades entre pedestres e ciclistas é constante próximo ao trevo. Não há faixas de segurança nem sinalização que os privilegie em toda a extensão do viaduto e na ligação com a Dr. Pedro Zimmermann. E onde se pensou nos pedestres, a intenção ficou pela metade. Sobre todo o viaduto há calçamento no sentido Centro-Itoupavas. Porém, para acessá-lo é preciso se arriscar cruzando as marginais de acesso à BR-470.
Impasse entre prefeitura e Dnit impede solução
A solução para a passagem segura de pedestres e ciclistas esbarra no impasse sobre a jurisdição municipal e federal. O projeto executivo do Viaduto da Mafisa foi elaborado em 2006, custeado pela prefeitura, Associação Empresarial de Blumenau (Acib) e Conselho de Desenvolvimento Econômico da Itoupava Central (Codeic). A execução ficou a cargo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), que aprovou a proposta.
– Quando executamos o projeto, percebemos a falha. Penso, sob o ponto de vista técnico, que a responsabilidade passa pela prefeitura, que elaborou o projeto – argumenta o superintende do Dnit na região, Elifas Marques.
Marques explica que o atual contrato da obra não permite obras acessórias. Ainda assim, garante que discutirá uma solução para o caso em reunião com o superintendente do Dnit em Santa Catarina, João José dos Santos, marcada para segunda-feira.
Presidente do Seterb, Rudolf Clebsch afirma que a responsabilidade no trecho ainda não está esclarecida. O órgão solicitou ao Dnit e ao Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra) a delimitação da jurisdição na área.
– A ampliação do acostamento não é obra que exija grandes investimentos. Mas o novo viaduto executado pelo Dnit não pode retirar o acesso que a comunidade já tinha. Isso tem de ser revisto – justifica Clebsch.
ENTREVISTA
PETERSON IGLESIAS, CICLISTA VÍTIMA DE ACIDENTE
“Assim como aconteceu comigo, pode acontecer com outros”
No final da tarde da última segunda-feira, o primeiro dia útil após a abertura do tráfego sobre o Trevo da Mafisa registrou também o primeiro acidente. Um ônibus do transporte coletivo urbano de Blumenau, que trafegava da região das Itoupavas para o Terminal do Aterro, atropelou o ciclista Peterson Iglesias, 33 anos, sobre o viaduto. Ele atravessava a pista – que não tem ciclovia nem faixa de pedestres – quando foi atingido. Teve múltiplas fraturas e hemorragia interna. Iglesias se recupera dos ferimentos internado no Hospital Santa Isabel.
Jornal de Santa Catarina – Como está seu estado de saúde?
Peterson Iglesias – Tem sido muito difícil para mim, só com fé em Deus. Tenho muitas dores, estou com a perna direita quebrada e ralada, tive traumatismo craniano, levei 20 pontos na perna esquerda. No abdômen acabei de passar por uma cirurgia e levei mais 20 pontos. Fraturei a bacia e o ombro esquerdo. O médico disse que eu terei de ficar deitado por dois meses.
Santa – O que você fazia no viaduto?
Iglesias – Eu passo por ali todos os dias. Trabalho como assistente de marketing na Distribuidora de Bebidas Hess. Moro no Bairro Fortaleza, próximo à Dudalina. Vou de bicicleta todos os dias porque o caminho não é longo. Era 17h40min, eu estava saindo do trabalho.
Santa – Como foi o acidente?
Iglesias – Foi muito rápido. Tinha acabado de conversar com dois guardas de trânsito. Desci da bicicleta para atravessar a pé a Rua Dr. Pedro Zimmermann. Na hora não tinha carro, apenas um caminhão vinha em minha direção, mas fez sinal de luz para eu atravessar. De repente apareceu o ônibus e me atingiu.
Santa – Qual a maior dificuldade para pedestres e ciclistas no trecho?
Iglesias – Ali não tem sinalização para pedestre, nem faixa de segurança. Espaço para passar de bicicleta, muito menos. O pior é que, assim como aconteceu comigo, pode acontecer com outras pessoas. O jeito é redobrar a atenção.
Por que pedestres e ciclistas sofrem
✓ Não há faixas de pedestres em toda a extensão do trevo e do Viaduto da Mafisa
✓ Não há acostamento nas marginais do trevo no sentido Itoupavas-Centro. Espaço entre a pista e o guard-rail é menor que meio metro
✓ Sobre o Viaduto da Mafisa há calçamento no sentido Centro-Itoupavas, mas os pedestres precisam se arriscar cruzando as marginais de ingresso à BR-470 para acessá-lo
✓ Não há sinalização alguma privilegiando pedestres próximos aos pontos de ônibus da Rua Dr. Pedro Zimmermann
✓ Iluminação no trevo é precária
Atravesse o trecho com segurança
✓ Pedestres devem transitar no sentido contrário a dos veículos para visualizar atentamente o fluxo do trânsito
✓ Ciclistas devem transitar no sentido dos veículos
✓ Redobre a atenção na hora de fazer a travessia
✓ Se puder, evite cruzar nos pontos de maior movimento
✓ Use roupas claras e acessórios refletores no caso de bicicletas para facilitar ser notado pelos veículos
✓ Ciclistas devem usar capacete
Fonte: Guarda Municipal de Trânsito, Polícia Rodoviária Federal e Polícia Militar Rodoviária
Leia mais sobre o tema
28/5/2010:
Viaduto da Mafisa em Blumenau: Acesso à BR-470 é liberado
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29/5/2010:
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