História
Histórias: A vida expressa às margens da via em Blumenau
Família Wruck assiste, há quatro gerações, a interminável construção da pista que liga o Centro à BR-470 e agora avança em mais uma etapa
Família Wruck assiste, há quatro gerações, a interminável construção da pista que liga o Centro à BR-470 e agora avança em mais uma etapa
CRISTIAN WEISS
BLUMENAU
Aos 56 anos, Nivaldo Wruck caminha sobre o asfalto da Via Expressa e a nostalgia vem à tona. Às margens da estrada, num sítio da Rua Fritz Koegler, no Bairro Fortaleza, em Blumenau, o produtor de leite viveu os últimos 30 anos. Da janela de casa viu o cenário cercado pela pastagem se transformar no asfalto cortado por carros em alta velocidade.
Resultado de um processo burocrático, passaramse 35 anos da criação do projeto à execução da Via Expressa, tempo que se confunde com a trajetória de Nivaldo, que ainda sonha em ver a conclusão do viaduto no encontro com a BR-470, etapa que começa a ser feita até segunda-feira. A área de oito hectares onde ele mora pertenceu ao avô Alberto, a quem visitava aos fins de semana nos tempos de garoto. Seguem lúcidos na memória momentos em que pescava num riacho nas tardes de sábado. O córrego teve o curso desviado para dar lugar ao asfalto que hoje corta parte da propriedade.
O garoto cresceu e conheceu Íris, a jovem de cabelos negros e largo sorriso com quem se casou. Da união vieram os filhos Maurício e Joseli e o convite, em 1979, para morar em companhia do avô no sítio. Ano em que a família ouvira falar pela primeira vez do sonho da Via Expressa, a autoestrada que permitiria acesso rápido à futura BR-470.
– Assim que veio a notícia, já tinha engenheiros marcando o terreno para traçar a Via Expressa. Uma década se passou, o mato tomou conta e nada aconteceu – recorda Nivaldo.
Fundações da Ponte do Tamarindo foram feitas em 1992
Em 1984 nascia Josiane, a caçula que cresceu ouvindo histórias do pai e do bisavô sobre a prometida estrada. Até completar sete anos, apenas ouviu. Pôde ver somente em 1992, ao lado do pai, as fundações da Ponte do Tamarindo, o primeiro trecho da via.
Após quatro anos, o susto: a estrutura da ponte caiu sobre a Rua 2 de Setembro. Enquanto a cidade lamentava o acidente, a família lastimava a morte de Maurício, o primogênito, eletrocutado dentro de casa. Hora de se recompor.
A ponte foi finalmente inaugurada em 1999. Proeza comemorada pelo avô Alberto, ainda esperançoso de ver a conclusão da estrada. Não a viu. Morreu em 2002, aos 99 anos, 15 meses antes do reinício das obras, paralisadas outras duas vezes até 2006. É quando vem ao mundo Grazieli. A loirinha de olhos arregalados pertence à quarta geração da família, que assiste da cerca de casa o sonho da Via Expressa, relutante em se realizar.
Construção do viaduto está prevista para começar segunda
Se o tempo colaborar, a construção do viaduto da Via Expressa deve começar até segunda-feira, com o início da implantação dos quatro pilares principais que sustentarão o viaduto no encontro com a BR-470. A previsão é do secretário de Obras de Blumenau, Alexandre Brollo. Quem passa pelo local, já observa o canteiro de obras que está sendo instalado desde quarta-feira. Os trabalhos iniciais devem levar 50 dias.
O viaduto faz parte da segunda etapa das obras da Via Expressa e vai custar R$ 5 milhões. O prazo de conclusão restante é de 11 meses. A primeira fase dos trabalhos foi concluída em setembro de 2007 e consistia na ligação do Bairro Itoupava Seca à BR-470. Há ainda uma terceira etapa, que prevê outros quatro viadutos para integrar o trânsito com a rodovia. Mas somente será feita quando a BR-470 estiver duplicada.
Projeto original previa acesso a Itoupavazinha
Idealizada durante a gestão de Felix Theiss como prefeito, entre 1973 e 1976, a Via Expressa fazia parte de um conjunto de obras modernas para reduzir o tráfego intenso no Centro de Blumenau e possibilitar uma nova ligação com o Litoral pela BR-470, uma alternativa à Rodovia Jorge Lacerda.
– Quando começamos a projetar a Via Expressa nem sequer havia a BR-470. A única garantia que tínhamos da rodovia era o compromisso firmado pelos governantes da época – recorda Theiss.
O então novo Plano Diretor de Blumenau, concluído em 1975, trazia o conceito de expansão da região Norte da cidade e favorecia a execução de duas obras principais para o escoamento de mercadorias e transporte. O Anel Norte – que compreendia as vias da Teka ao Sesi – e a Via Expressa, composta também pela Ponte do Tamarindo e o trevo com a BR-470.
No projeto original, a Via Expressa deveria alcançar a Itoupavazinha, próximo ao Aeroporto Quero-Quero. Na região, grandes indústrias começaram a se instalar, incentivadas pelo projeto de desenvolvimento da região Norte.
Mas, para ser executada, a Via Expressa dependia da aprovação do Plano Diretor pela Câmara de Vereadores, o que só ocorreu na gestão seguinte. O começo das obras da Via Expressa, no entanto, ficou para 1991, quando houve as primeiras desapropriações. Nos anos que se seguiram, a burocracia, a falta de recursos e os prejuízos causados pela catástrofe de 2008 impediram que a via fosse concluída.
Reportagem foi manchete do Santa |
Linha do tempo
1975
A Via Expressa é idealizada como alternativa para ligar Blumenau ao Litoral, por meio da BR-470, que ainda seria construída. Projeto é elaborado na gestão do então prefeito Felix Theiss
1991
A prefeitura começa as desapropriações de famílias que moram na rota por onde será construída a autoestrada
1992
Maio – É dado o primeiro passo da Via Expressa com o início da construção da Ponte do Tamarindo
1996
Fevereiro – A estrutura metálica da ponte cai sobre a Rua 2 de Setembro. O acidente interrompe as obras, que são retomadas quatro meses depois
1998
Junho – É finalizado o transplante do tamarindo, feito para não ocorrer a mudança no projeto da ponte, que custaria mais dinheiro e levaria mais tempo
1999
Dezembro – Ponte do Tamarindo é inaugurada após sete anos em obras
2003
Junho – As obras da Via Expressa começam no início do ano, mas prosseguem em ritmo lento, porque não chegaram os recursos federais prometidos para o primeiro semestre
2004
Maio – Faltam R$ 3 milhões para que a Via Expressa possa ligar a Ponte do Tamarindo à BR-470. Sem recursos, a construção do eixo principal é paralisada
2006
Janeiro – Obras são retomadas com previsão de término para outubro. Porém, a falta de verbas paralisa os trabalhos novamente em novembro
2007
Janeiro – Máquinas e tratores voltam ao trabalho no viaduto da Rua Francisco Vahldieck. O governo federal promete enviar R$ 1 milhão, mas o dinheiro não chega e a obra para mais uma vez
Dezembro – R$ 4 milhões são liberados pelo governo federal. Porém, problemas com a prestação de contas e outras pendências atrasam a entrega da verba
2008
Setembro – Abertura programada para o dia 2, aniversário do município, é adiada devido à falta de detalhes na finalização da obra. As pistas são liberadas para o tráfego a partir do dia 28
Novembro –Deslizamentos de terra das encostas às margens da Via Expressa danificam gravemente o asfalto em seis pontos. Prejuízo estimado pela prefeitura é de R$ 11 milhões
2009
Março e Dezembro – Construção de muros de contenção nas encostas, reforma em passarela e limpeza do asfalto danificado são executadas pelo Departamento Estadual de Infraestrutura ao custo de R$ 15,4 milhões. Asfalto é recomposto pela prefeitura
Março – Convênio com a Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina (Badesc) garante repasse de R$ 5 milhões para a construção do viaduto. Obras têm prazo de 18 meses para serem concluídas, mas a prefeitura pretende concluir em 12. Mesmo com a conclusão do viaduto, a Via Expressa não pode ser considerada concluída. Ainda há a construção de outros quatro viadutos que só poderão ser feitos com a duplicação da BR-470
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Elvis Luiz Machado
19/05/2020 at 01:03
Material muito bom.
Nunca deixe isso morrer.
Estou procurando fotos antigas da construção pois eu brincava nesse lugar quando eu era criança.