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Filme-reportagem: O Vendedor de Versos

Chocolate é vendedor ambulante de livros usados e analfabeto. Mas tem um talento que o destaca pelo domínio com as palavras

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Chocolate é o protagonista do filme reportagem O Vendedor de Versos | Crédito Rafaela Martins Agência RBS 2012

Conheça o desafio diário de Ademar Ferreira Mota, 63 anos, o Chocolate. Vendedor ambulante de livros usados, ele é analfabeto. Mas tem um talento que o destaca pelo domínio com as palavras. Chocolate é o protagonista de O Vendedor de Versos, o filme-reportagem produzido pelo Jornal de Santa Catarina e O Sol Diário.

Assista abaixo ao filme-reportagem. Para uma melhor qualidade, selecione a opção HD, no ícone representado por uma engrenagem, na barra inferior do player. Ou clique aqui e assista no Youtube.

O VENDEDOR DE VERSOS
Estrelando: Ademar Ferreira Mota, o Chocolate
Direção e roteiro – Cristian Weiss
Imagens – Rafaela Martins e Marcos Porto
Edição – Cristian Weiss e Suellen Venturini
Coordenação – Rafael Waltrick e Fabiana Roza
Arte – Aline Fialho
Itajaí, julho de 2012

 

O que é filme-reportagem
Projeto do Grupo RBS que combina a linguagem do cinema com a do jornalismo. São curtas-metragens, com duração média de 5 minutos, que contam histórias reais de pessoas comuns, com tratamento visual e roteiros próprios da linguagem cinematográfica

 

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Vendedor de livros de Itajaí é personagem de filme-reportagem

Analfabeto, Chocolate vive de vender obras nas ruas da cidade
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Chocolate é o protagonista do filme reportagem O Vendedor de Versos | Crédito Rafaela Martins Agência RBS 2012
 

 

Cristian Weiss

 

 

 

Era abafada a madrugada de 4 de abril em Itajaí. Angustiado com o calor, Chocolate soltou a cadela Dengosa e saiu da garagem improvisada de lar, onde morava na Avenida Nilo Simas, Bairro Cidade Nova. Sentou-se nos bancos da pracinha em frente e arriscou uma ode ao luar. “Lua, maravilhosa lua. Lua, de gerações a gerações. Lua, que acalentou corações apaixonados, com seu brilho tão brilhante…” Raros têm a ousadia de sair de madrugada para compor uma poesia. Chocolate teve.

 

 

 

Nascido Ademar Ferreira Mota, 63 anos atrás em Governador Valadares (MG), hoje é Chocolate nas ruas de Itajaí. Há nove anos, dia a dia junta livros usados que recebe de doação, empilha na caixinha de peixe na garupa da bicicleta azul e põe a venda aos leitores no Mercado Público Municipal e nas praças do Centro. O vendedor de livros e aspirante a poeta Chocolate é o protagonista de O Vendedor de Versos, o filme-reportagem produzido pelo Grupo RBS que vai ao ar hoje no site de O Sol Diário.

 

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Chocolate é um solitário das ruas. Da solidão, extraiu inspiração. Da inspiração nas calçadas, fez brotar poesias e versos. Alguns imprecisos, verdade. Mas vai lá, quem consegue enxergar a poesia da vida em meio à sufocante rotina do dia a dia? Cora Coralina, a doceira goiana que virou poetisa, disse que poeta é quem sente a poesia, não somente quem a escreve. Na simplicidade em que vive, Chocolate prova que a sensibilidade não é privilégio dos instruídos, muito menos é essencial rascunhar palavras num caderno em branco para dominá-las. A infância difícil no interior de Minas Gerais lhe impediu de estudar.
 
Vendeu redes e tapetes em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e no Litoral catarinense. Veio num caminhão pau de arara com 15 nordestinos desde Santos, nos anos 80. Com o fim da temporada de verão, o grupo se foi. Restou Chocolate, com 12 redes a vender. Deixou para trás a companheira e os quatro filhos, que nunca mais viu. Radicado em Itajaí, vendeu artesanato, tapetes e redes. Virou manobrista do estacionamento do Mercado Público, onde um antigo cliente lhe doou livros. Chocolate tentou vendê-los e num único dia livrou-se de todos. Assim, Ademar se tornou conhecido pelas ruas de Itajaí e Navegantes. Alguns, quando o vêem, empinam o nariz, descontentes pela insistência típica dos comerciantes. Outros são atraídos pela simpatia. 
 
— Às vezes ele é exigente. Gosta de material bonito e em bom estado. A gente doa o que consegue doar e o ajuda, porque ele vive disso. É uma boa pessoa —  diz Ivana Bittencourt dos Santos, proprietária da Livraria Casa Aberta, que doa livros usados a Chocolate sempre que ele a procura. 
 
O analfabeto Chocolate escreve só o próprio nome e lê uns pares de sílabas. Mas a saudade é a palavra que mais anota no seu diário mental. É a principal inspiração para seus versos. Compõe músicas e pequenos poemas para lhe simular companhia na solidão. E quando Chocolate percebe que o cliente é chegado numa prosa, recita-lhe versos como forma de agradecimento pela compra.
 
 

 

 

A tristeza é saudade

 

 

 

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A tristeza é saudade

 

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Dos passos que não damos

 

 

Das pessoas que não conhecemos

 

 

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Do lugar que não fomos

 

 

E da canção que não escutamos

 

 

 

A lua é tão só

 

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Tão solitária 

 

 

Nela nós vivemos

 

 

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Nela nós pensamos

 

 

E nela nos apreciamos

 

 

 

E agora ao redor

 

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Tudo é fumaça

 

 

Que vagueia

 

 

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Sentido a um beijo

 

 

 

Poesia composta por Chocolate, sentado ao meio-fio, pensando na mãe, quando teve a mercadoria apreendida pela fiscalização em São Paulo.

 

 

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